No Evangelho de hoje, Jesus anuncia Sua
mensagem de salvação ensinando de cidade em cidade, de povoado em
povoado. Ao mesmo tempo, Ele se aproxima de Jerusalém, onde alguém lhe
pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?”
Esta é a pergunta curiosa do devoto fiel,
evidentemente pondo-se no grupo dos salvos. É a tentação de sempre,
daqueles que se julgam “proprietários” da salvação, especialmente os
fariseus. Mas é também a tentação que temos nós, discípulos, quando
perdemos a dimensão da espera. Quando acreditamos que “os muros da nossa
cidade interior” são tão seguros a ponto de não precisar de vigilância.
É terrível para nós, discípulos, quando,
depois de uma bela experiência com Deus, sentimos imediatamente que
entramos num grupo “à parte” e começamos a olhar com autossuficiência
aos outros, àqueles que não entendem, que não conhecem, que têm seguido
outros percursos diferentes ao de Jesus.
“Para mantermos a vida de fé necessitamos
fazer todo o esforço possível para passar pela porta estreita”, diz o
Senhor. Com este símbolo, Jesus não tem a intenção de dizer que, devido
ao monte de gente que quer a vida eterna, tenhamos que “empurrar uns aos
outros” pra poder garantir nosso lugar. Não! Devemos nos esforçar sim;
não basta querermos.
É verdade que não podemos nos salvar por
nossas próprias forças, mas isto não acontece sem a nossa ação, com uma
atitude de pura passividade. Deus nos salva, mas nos leva a sério como
pessoas livres e responsáveis. Devemos nos esforçar e lutar,
aproximando-se decididamente e conscientemente do Senhor para superar os
obstáculos e testemunhá-lo com a nossa vida.
Com a afirmação sobre a porta que é
fechada pelo dono da casa, Jesus quer nos dizer que devemos nos
esforçar, porque nosso tempo é curto. Não podemos adiar “pra não sei
quando” o esforço de viver em comunhão com Deus. Com a nossa morte, a
porta será fechada e será decidido o nosso destino. Então, será muito
tarde para querer chamar e bater.
Devemos levar também em conta que
o nosso tempo, além de limitado não é do nosso controle. Não podemos
viver uma vida segundo o nosso bel-prazer e adiar para a velhice a
preocupação pela salvação. Não somos nós que fechamos a porta, mas Deus.
Por isso, devemos estar sempre prontos.
Nas palavras do dono da casa, vemos uma
ênfase na justiça, na orientação da vida segundo a vontade do Senhor.
Não basta uma comunhão somente externa com Ele, tê-Lo conhecido, ter
ouvido Seus ensinamentos, conhecer o Evangelho e o Cristianismo, pois
corremos o risco de Ele nos dizer: “Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!”.
Quem não se orienta pela vontade de Deus,
quem rejeita, conscientemente, a comunhão com Ele, já excluiu a si
próprio da salvação. Esta sua decisão é respeitada e confirmada pelo
Senhor. E seria triste chorar de desgosto e ranger os dentes de raiva
por se dar conta do que foi perdido.
A boa notícia de Jesus não nos diz coisas
agradáveis nem nos promete uma vida fácil e sem esforços. A boa nova
contém algumas verdades incômodas, mas justas, porque não nos esconde
nada, mas manifesta a verdade completa e nos indica a verdadeira via
para a felicidade plena. Aquilo que conta, enfim, é o empenho com o qual
se vive a própria existência cristã, testemunhando uma pertença a
Cristo.
Jesus nos interpela. Para chegarmos ao
Reino, à vida plena, à felicidade eterna – dom de Deus oferecido a todos
– é preciso renunciar a uma vida baseada naqueles valores que nos
tornam orgulhosos, egoístas, prepotentes e autossuficientes para seguir
Jesus no Seu caminho de amor, de entrega e dom da vida.
Padre Bantu Mendonça
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